Páginas

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Existe relação entre : Filosofia e Futebol?

“É a vida pacífica que todos deveriam viver
o máximo e o melhor possível.
Qual é então a senda correta? Deveríamos
 viver nossas vidas participando de
certos jogos – sacrificando, cantando e
dançando – de modo a nos capacitarmos
 a conquistar o favor divino e repelir
 nossos inimigos e vencê-los na luta”.

Platão, As Leis, VII, 796 b.


Haveria ou há, por acaso, alguma relação entre o jogo de futebol e a filosofia? Foi a questão que começou a me incomodar quando, após ter proferido a palestra “Arte e verdade em Gadamer” na Faculdade de Letras da UFRJ, Márcio-André – um dos editores da excelente Revista Eletrônica Confraria – chegou-se a mim e comentou: ‘muito interessante as relações entre arte e filosofia que você explicitou através da noção de jogo..., mas professor, será que o senhor poderia escrever um texto sobre o jogo de futebol?’... Um silêncio instaurou-se entre seu pedido e minha hesitada resposta, uma vez que jogar futebol é uma das minhas paixões, mas explicitar suas relações com filosofia, a princípio, me pareceu pouco ‘científico’ e não se encaixaria nos critérios ‘objetivos’ da academia. Para protelar minha resposta apelei à velha e ontológica desculpa ‘não tenho tempo agora para isso’. Mas meu amigo continuou insistindo em seu pedido e reiterou que havia gostado das relações que havia desenvolvido entre jogo, arte e verdade do ponto de vista filosófico. De volta aos pampas, o pedido do Márcio-André foi tomando conta de mim de tal forma que, ao final, parecia não ter mais outra alternativa senão aquela de tecer um texto sobre duas das minhas paixões, a filosofia e o futebol. Aos poucos foi emergindo este texto norteado sempre pela inquietação: Haveria ou há, por acaso, alguma relação entre o jogo de futebol e a filosofia? E, em caso afirmativo, quais seriam?

A filosofia do jogo de futebol... Muitas são as lições filosóficas que o jogo de futebol tem a nos dizer. Do ponto de vista corporal-antropológico: jogar futebol, enquanto exercício físico, contribui para descarregar, além de toxinas, as tensões e estresses corroborando a conhecida máxima latina mens sana in corpore sano, ou seja, mente sã em corpo são. O corpo exige cuidados, dedicação e condicionamento físico para que possa ‘jogar bem’. Quem joga futebol, consciente ou inconscientemente, trata a vida como um todo integrado entre corpo e alma. Com isto denuncia-se a atribuição segundo a qual o corpo seria apenas um cárcere para alma ao mesmo tempo em que saltamos para fora do dualismo antropológico cartesiano que cinde res cogitans [alma] da res extensa [corpo] conferindo valor apenas ao primeiro aspecto.



F. Nietzsche: “No considerar o mundo um jogo divino para além de bem e mal - tenho como predecessores a filosofia dos Vedas e Heráclito". Enfim, não seria um grande contra-senso ainda afirmar que, em nome da paixão pelo saber, a paixão e o prazer em jogar futebol nada teria a ver com o filosofar? Antes, no ‘jogo da vida’, jogar e filosofar, não são verbos que se convertem?




Nenhum comentário:

Postar um comentário