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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Filosofia Esportiva

A psicologia esportiva vem sendo utilizada em larga escala para potencializar o rendimento de atletas. Nos anos oitenta, era uma novidade; nos anos noventa, fazia parte das atividades extra-quadra, como musculação, nutrição e fisioterapia. Grandes atletas, de uma forma consciente ou não, usavam de psicologia esportiva antes e durante seus jogos e competições. Ayrton Senna chegava a dormir no cockpit de seu carro antes da corrida visualizando o trajeto que havia treinado; Hortência usava na hora do arremesso livre, durante as partidas, e ficou notabilizada por todo um ritual que fazia antes de cada arremesso; Boris Becker deitava no vestiário antes de entrar na quadra e revisava mentalmente todas as jogadas e técnicas que havia treinado para o jogo. Ayrton Senna foi um dos maiores pilotos de fórmula um; Hortência foi a maior jogadora de basquete brasileira e das que mais convertia arremessos na história; Boris Becker foi um dos maiores jogadores de tênis do mundo e um dos mais jovens campeões do esporte.
A psicologia teve e tem seu valor no âmbito esportivo, mas como tudo que se separa muito de sua natureza com o intuito de enriquecê-la, acaba por contradizê-la. Hoje, com a ploriferação de livros de auto-ajuda mental e espiritual, a própria psicologia muitas vezes contradiz seu propósito e trabalha, se não contra o ser humano, em direção oposta à sua natureza. Uma das provas disso é a invasão de dogmas psicológicos em revistas, livros e programas de televisão: como ser feliz em 10 lições; 20 passos para sua realização profissional; um guia completo para o relacionamento seguro, sem mestre. A dogmatização da psicologia a rebaixou, em muitos casos, quase a uma seita pois a dogmatização nada mais é do que um ataque contra a natureza racional do ser humano, contra sua ferramenta básica e absoluta para o conhecimento do mundo e de si mesmo. Sua associação aos preceitos de auto-ajuda pioraram ainda mais sua reputação.
Como alternativa a essa desintegração da psicologia em geral, nasce a necessidade de um estudo integrador e que tenha um sistema de idéias volitivo, ou seja, não dogmático, que leve a pessoa à escolhas frente a alternativas que valorizem e potencializem seu melhor, sua natureza básica, seus atributos mais preciosos. Essa alternativa é a filosofia. Um sistema filosófico é uma visão integrada da existência. Ela é um sistema de idéias que visa a integração do ser enquanto ser e enquanto ser relacional. A filosofia é a ciência do não-aleatório, da não-livre-associação, que foi para onde a psicologia, em muitos casos, tomou rumo.






Esporte e Ética .

Você faria negócios com alguém que no 4 a 4, 30 iguais do terceiro set daria fora uma bola na linha? Se associaria com quem duvidasse sempre quando diz que a bola foi fora e que constantemente vai ver a marca duvidando de sua honestidade? Você faz qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, para ganhar? Prefere jogar como gosta ou jogar para ganhar? Perder é algo aceitável no seu jogo ou uma coisa que você não admite? Tirar o outro do jogo com catimbas e coisas extra jogo faz parte de seu repertório de táticas ou você quer ganhar dentro do jogo?

O esporte individual é um reflexo do que somos na vida e nossas atitudes na quadra refletem com muita veracidade (senão completa) nossas atitudes na vida, no dia-a-dia e nas coisas mais simples. Não é dissociada nossa postura dentro e fora da quadra. O esporte coletivo já disfarça um pouco essas atitudes, embora alguns jogadores se sobressaiam em suas atitudes dentro e fora da competição. Há alguma surpresa em o Maradona estar no fundo do poço como está? Para quem faz gol com a mão, joga dopado e faz valer de qualquer artifício externo para alcançar um resultado, não. Há surpresas de Pete Sampras não se envolver em nenhum escândalo amoroso, financeiro ou de qualquer outro tipo? Para quem sempre se concentrou em suas próprias potencialidades e alcançou o topo através de muito trabalho e sem reclamar de juizes ou bolas mal cantadas, não.

A ética que temos na quadra é a mesma que temos na vida. Não há ética empresarial, ética social, ética esportiva. Há a ética. Ponto. Não dá para ser meio ético. Não há relatividade. Ou se rouba a bola na linha ou não se rouba. Não há meio roubo. Ah, mas eu pensei em não roubar. Mas somos julgados pelos atos, não pelos pensamentos. Matei, mas me arrependi. Vou virar pastor de igreja agora. Sou atleta de cristo. A canela do meu adversário que eu quebrei? Ah, foi coisa do jogo. Aquela roubadinha nem foi tão importante assim. Já vi em um jogo de juvenis (16 anos) um jogador duvidar da marcação do outro. Na próxima bola ele deu fora uma bola 10 centímetros dentro e ganhou o game. Na virada disse para o adversário: “Você roubou aquela bola, mas eu roubei a mais importante”. Como se isso explicasse tudo e por isso fosse absolvido de qualquer culpa.

Em um jogo de futebol ouvi um comentarista dizer que até foi pênalti, mas que se o juiz resolvesse marcar todos os pênaltis como aquele, teriam setenta pênaltis por jogo. Como assim? Para ser pênalti tem que arrancar uma perna, sangrar ou jogar um adversário longe? Falta é falta. Dentro e fora da área, falta é falta. E se tiver que marcar setenta pênaltis por jogo, que marque. Essa relatividade de onde e quando se ser ético é um dos grandes problemas que temos na sociedade. E vemos isso nas quadras de tênis e em outros esportes onde o que valeria era a brincadeira e a diversão acima de tudo. Mas não somos dissociados. Aquilo que é muito relativo na verdade não é. O que eu gostava com quinze anos ainda gosto hoje. Se mudo muito é porque não gostava, é porque não era.

As atitudes são reflexo de alguma filosofia interna, não são aleatórias. Sabemos já de antemão quais tipos de atitudes teremos em muitas situações. Podemos até dizer internamente que faremos diferente, mas na hora fazemos como sempre fizemos e isso não nos surpreende. Muitas vezes não queremos é aceitar que vamos duvidar daquela bola quando o jogo apertar, mas na hora duvidamos. O conflito interno é porque sabemos que não deveríamos agir desse modo, mas agimos.

Ser um jogador fairplay não significa que não ser competitivo, mas sim que as coisas têm um limite e que a vitória sob certas condições não é plena e nem é vitória. Em um mundo onde todos querem levar alguma vantagem e que valoriza o ‘jeitinho’, ganhar dentro dos limites da ética e da moral é uma vitória muito maior. Ganhar algo que não se merece é um ato de corrupção interna. Ganhar por merecimento é um ato de exaltação interna.

Ser ético na quadra é ser ético na vida, nos seus reflexos, e um ato de coerência onde todo resultado é positivo e toda vitória é merecida.






A moralidade no esporte .

Li um artigo de um filósofo americano falando sobre a fantástica marca de Lance Armstrong, o ciclista que conquistou por sete vezes seguidas o primeiro lugar no Tour de France, a competição ciclística mais importante e difícil do mundo. Em uma parte de seu artigo ele pergunta por que as conquistas esportivas têm um enorme apelo na vida humana. A resposta, conclui o filósofo, encontra-se em um aspecto raramente reconhecido no esporte: seu significado moral. O que as vitórias desses atletas nos fornecem é um raro e crucial valor moral: o testemunho da conquista humana.

A moralidade baseia-se nos melhores valores humanos e estes valores, nas melhores virtudes pessoais. Colocar em prática as melhores virtudes é fazer os valores trabalharem a favor da moralidade. A moral não é apenas um conjunto de valores que guia nossas ações, mas é a própria ação que dá sentido a esses valores. Quando se fala em moral pensa-se apenas como algo intelectual ou teórico, mas a moral é, antes de tudo, prática. Pois só a prática mostra o resultado daquilo que pensamos e do conjunto de ações que escolhemos como guia.

Quando um atleta como Guga, Senna, Daiane dos Santos ou Armstrong alcançam suas conquistas, estão exteriorizando naquele momento tudo o que valorizaram antes dessa conquista. O esporte premia o melhor, a elite e sua única igualdade está em que cada competidor tem as mesmas oportunidades para mostrar seus valores, seus talentos e sua determinação. Ao celebrar a vitória de um sobre muitos, celebra-se a capacidade humana de vencer desafios, de ter um objetivo maior e de colocar toda sua disposição ao serviço de seus valores.

A vitória de um atleta nos faz ter a nobre visão do potencial humano e é isso que faz com que todos gostemos de ver, admirar e se emocionar com cada conquista desses grandes seres humanos. Para nós que não podemos sacar a 240 km/h como Roddick ou não podemos correr de bicicleta como Armstrong, cabe-nos levar para nossa vida aquilo que os atletas nos passam através de suas conquistas: objetivo, determinação, persistência, valores e prática moral. Em qual aspecto de minha vida posso colocar todas essas virtudes? Quão mais longe não iria se colocasse o melhor de mim naquilo que realmente gosto?

São perguntas que podemos responder cada vez que vemos um atleta alcançando o topo de suas conquistas.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Filosofia da Academia - Jiu Jitsu - Arte Suave



Mais do que um esporte, uma luta, o Jiu-Jitsu trás consigo uma filosofia voltada ao equilíbrio do corpo e da alma e, como toda filosofia nos orienta à prática do cotidiano.

O objetivo do Jiu-Jitsu é o de desenvolver reflexos físicos, emocionais e espirituais, detectando medos e limitações, em busca de caminhos positivos.

O confronto pessoal exige o encontro do equilíbrio, sendo um vencedor de si mesmo primeiramente, vencendo seus limites.

Quanto maior a harmonia e a sintonia de você com você mesmo, maior a autoconfiança, o autocontrole, a autoestima, a fé de que tudo dará certo.

A disciplina que o jiu-jitsu exige faz parte da filosofia de vida que deve estar sempre voltada para a evolução, a confiança e o poder.

O autocontrole e autoconfiança são estimuladas através da implicação dos exercícios físicos e mentais.

A melhor maneira de superar seus limites é estando do seu lado com a mente positiva voltada para  o seu potencial. Somente estando do seu lado com o pensamento positivo é que você conseguirá ultrapassar a suas dificuldades.






Video sobre jiu jitsu :



Apaga mas não bate .

A prática esportiva e a Filosofia andam juntas? O que elas têm em comum?

Elas precisam andar juntas, não só a prática como a Filosofia, a partir de uma idéia central. Ser sério não significa ser triste. Uma pessoa séria não é uma pessoa triste, assim como uma empresa séria não é uma empresa triste. A tristeza vem exatamente quando você não consegue sentir-se bem, quando alguma coisa lhe incomoda, quando alguma coisa lhe deixa instável, quando alguma coisa lhe deixa deslocado com a situação.

Ora, o local de trabalho, o local onde se passa parte da existência, é um local onde, minimamente, é necessário estar bem. Este bem-estar, evidentemente, está relacionado a sua capacidade de fazer um trabalho no qual você sinta reconhecimento, no qual você tenha relações interpessoais, onde não haja nenhum tipo de dissabor que seja sem alternativa, um dissabor extremamente negativo e, ao mesmo tempo, que leve a um bem-estar de natureza física, o que exige, o tempo todo, um ambiente adequado em relação à disposição do espaço, em relação à ergonomia e, é claro, também em relação à sua condição física.

Por isso, concluindo, o esporte é sim grande promotor da cidadania, especialmente no mundo do trabalho, quando favorece a noção de igualdade, quando favorece a noção de perspectiva, de convivência que leva homens e mulheres a não perderem, talvez, a mais importante noção de humanidade, que é a noção de confraternização. Essa palavra vem perdendo seu sentido mais forte. Confraternizar é estar com os fraternos, estar com os irmãos e hoje, se há uma coisa negativa, é homens e mulheres, pelo mundo afora, acreditarem que não há noção de humanidade, que o outro humano ou outra humana é um adversário. Ao contrário, a possibilidade esportiva mais séria é exatamente, por isso que ela é alegre, na sua seriedade, a confraternização, estar com os fraternos, estar com outros homens e mulheres. Isso faz erguer a cabeça, promove a cidadania e, é claro, aumenta imensamente nossa capacidade de bem-estar. Por isso, se o esporte favorece a cidadania, ele favorece na medida em que realça, eleva a nossa capacidade de ser humano.



Muay Thai: Um esporte de filosofia e disciplina

História e Filosofia


O Muay Thai, ou boxe tailandês, tem uma longa tradição na Tailândia e começou há muitos séculos. Esta forma nativa de arte marcial também é praticada nos países próximos – no Cambodja é conhecido como Pradal Serey, e como Tomoi no norte da Malásia. Acredita-se que teve origem na China. Antigamente, o Muay Thai era ensinado como parte do treinamento militar siamês, e ainda hoje é empregado pelo exército tailandês.






Segundo o presidente da federação, Pedro Lopes Santana, o esporte é visto como uma prática violenta. “As pessoas geralmente tem um conceito errado de esportes ligados a lutas. Imaginam que as pessoas vão à academia para aprender a lutar e sair batendo em todo mundo por ai. A realidade esta bem longe disso, na academia temos disciplina e principalmente, respeitamos a filosofia do esporte”, explicou Pedro.
Muay Thai é uma arte marcial completa, uma luta milenar, praticada em todo o mundo, considerada sinônimo de força, e que contribui para um excelente condicionamento físico “Esse evento vai expor a verdadeira técnica do autêntico Muay Thai, respeitando as características do indivíduo, para que cada alcance seus objetivos. O esporte é saúde, equilíbrio e disciplina”, comentou.




Arte marcial e filosofia! Muitos acham que isso só acontece em filmes de Kung-Fu ou em filmes do Karate Kid, de tempos atrás. Infelizmente, o ensino das artes marciais na maioria das academias do ocidente foi desvinculado da sua parte filosófica. O objetivo principal destas academias é apenas finalizar seu oponente. A filosofia da luta e a arte da guerra eram e ainda são algo sem importância para alguns lutadores. Mas a filosofia da luta é parte importante para o desenvolvimento mental e técnico de todo lutador. A clareza de pensamento no momento da luta e a mente aberta para escolher o melhor movimento ou o melhor golpe para determinada situação, são fundamentais para que o lutador tenha êxito tanto num treino em sua academia, quanto como numa luta de campeonato. O lutador tem que estar sempre com o pensamento à frente e ter várias opções de movimentos em sua mente como resposta a qualquer movimento de seu oponente. Aquele lutador que apenas tenta parar o movimento do oponente, nunca terá um desenvolvimento técnico e dificilmente terá grandes vitórias.


Existe relação entre : Filosofia e Futebol?

“É a vida pacífica que todos deveriam viver
o máximo e o melhor possível.
Qual é então a senda correta? Deveríamos
 viver nossas vidas participando de
certos jogos – sacrificando, cantando e
dançando – de modo a nos capacitarmos
 a conquistar o favor divino e repelir
 nossos inimigos e vencê-los na luta”.

Platão, As Leis, VII, 796 b.


Haveria ou há, por acaso, alguma relação entre o jogo de futebol e a filosofia? Foi a questão que começou a me incomodar quando, após ter proferido a palestra “Arte e verdade em Gadamer” na Faculdade de Letras da UFRJ, Márcio-André – um dos editores da excelente Revista Eletrônica Confraria – chegou-se a mim e comentou: ‘muito interessante as relações entre arte e filosofia que você explicitou através da noção de jogo..., mas professor, será que o senhor poderia escrever um texto sobre o jogo de futebol?’... Um silêncio instaurou-se entre seu pedido e minha hesitada resposta, uma vez que jogar futebol é uma das minhas paixões, mas explicitar suas relações com filosofia, a princípio, me pareceu pouco ‘científico’ e não se encaixaria nos critérios ‘objetivos’ da academia. Para protelar minha resposta apelei à velha e ontológica desculpa ‘não tenho tempo agora para isso’. Mas meu amigo continuou insistindo em seu pedido e reiterou que havia gostado das relações que havia desenvolvido entre jogo, arte e verdade do ponto de vista filosófico. De volta aos pampas, o pedido do Márcio-André foi tomando conta de mim de tal forma que, ao final, parecia não ter mais outra alternativa senão aquela de tecer um texto sobre duas das minhas paixões, a filosofia e o futebol. Aos poucos foi emergindo este texto norteado sempre pela inquietação: Haveria ou há, por acaso, alguma relação entre o jogo de futebol e a filosofia? E, em caso afirmativo, quais seriam?

A filosofia do jogo de futebol... Muitas são as lições filosóficas que o jogo de futebol tem a nos dizer. Do ponto de vista corporal-antropológico: jogar futebol, enquanto exercício físico, contribui para descarregar, além de toxinas, as tensões e estresses corroborando a conhecida máxima latina mens sana in corpore sano, ou seja, mente sã em corpo são. O corpo exige cuidados, dedicação e condicionamento físico para que possa ‘jogar bem’. Quem joga futebol, consciente ou inconscientemente, trata a vida como um todo integrado entre corpo e alma. Com isto denuncia-se a atribuição segundo a qual o corpo seria apenas um cárcere para alma ao mesmo tempo em que saltamos para fora do dualismo antropológico cartesiano que cinde res cogitans [alma] da res extensa [corpo] conferindo valor apenas ao primeiro aspecto.



F. Nietzsche: “No considerar o mundo um jogo divino para além de bem e mal - tenho como predecessores a filosofia dos Vedas e Heráclito". Enfim, não seria um grande contra-senso ainda afirmar que, em nome da paixão pelo saber, a paixão e o prazer em jogar futebol nada teria a ver com o filosofar? Antes, no ‘jogo da vida’, jogar e filosofar, não são verbos que se convertem?